terça-feira, 4 de outubro de 2022

Choro

 Há vezes em que um choro guardado nos inunda.


Não é um choro com um nome só: é um acúmulo de choros, de dores somadas.

É a existência perene de uma impotência da vida: há coisas que não temos o poder de resolver.


Há ações que não são nossas.

Há decisões que não nos pertencem.

Há desamores que não podemos transformar em amor.


A existência desse coletivo de dores, no entanto, é nossa.


É um ponto frágil em nós: no qual guardamos os resquícios daquilo que ainda está sendo curado, daquilo que ainda precisa de tempo, daquilo que ainda necessita da umidade das lágrimas.


Dor também precisa ser regada.

Visitada, trabalhada, mexida, reorganizada.


Quando a gente esquece da dor é sinal que a cura está acontecendo: que aquilo não está mais na superfície.


Mas nada impede que um dia - porque toda dor é também saudade da não-dor - essa dor emerja, sem avisar, e te faça lembrar daquilo que dói.


Isso não é fraqueza: é você entendendo os limites da vida.

É você percebendo que certos pontos finais são, na verdade, reticências.