Tenho uma frase de Guimarães Rosa na minha parede. Olho para ela todos os dias.
Nela, ele diz: “Mas eu tirei de dentro do meu temor as espantosas palavras”.
Que força tem o que a gente teme!
Se a gente deixar, o que a gente teme se torna justamente aquilo que controla as nossas ações. Nos guia. Nos faz fazer curvas, abaixar, retornar e sequer ir.
Mas não estou demonizando o temor.
Medo é sempre um alerta: um aviso, o anúncio de algo que é capaz de nos comunicar algo sobre nós ou sobre o outro.
O problema da comunicação é que ela é, também, criadora de ruídos.
Nem tudo o que se comunica chega no outro como se gostaria que chegasse.
E isso vale também na comunicação feita de nós para nós mesmas.
Então é preciso cautela com a cautela.
É preciso limpar a comunicação que o temor te traz.
A pergunta inicial seria: O que o seu medo está tentando te dizer?
Para essa resposta cabe uma vida inteira.
A gente leva muito tempo para aprender a se escutar e outro tempo maior ainda para aprender a se entender.
Idioma próprio é coisa paulatinamente aprendida.
Por isso, é preciso escutar essa frase do Guimarães Rosa.
É preciso tirar de dentro do teu temos tuas espantosas palavras.
Essa é a metáfora do se escutar.
Do aprender a fazer sentido daquilo que te faz sentido.
Do se esforçar para limpar e esfregar teus medos até que você consiga vê-los por dentro: compreender o que eles significam e o que eles estão tentando te dizer.
Que teus medos sejam como placas de trânsito: que te avisam que é bom parar antes de seguir, mas que você deve seguir seu caminho depois de observar que dá para ir. Mesmo com medo.
Não se engane: todos nós tememos.
Claro que algumas pessoas já aprenderam a dominar mais seus medos. Já os escutam com a cautela de quem escuta com calma um conselho, mas sabe que aquele amigo, embora esteja bem intencionado, não tem como compreender completamente a sua necessidade de ir para alguma direção. Por isso eles vão, mesmo temerosos.
Acho que é disso que Guimarães Rosa fala: que a gente vá!
Que a gente tire de dentro do temor a nossa necessidade de ir.
Que não sejamos nós mesmos a nos pararmos de seguir adiante e buscar novos caminhos.
Vamos?
___Lana Nóbrega__________________________
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