O meu dia começou com vontade de ti. Com o desejo da tua pele encostando na minha. Das nossas respirações tão próximas à ponto de ficar sem se saber qual é o teu ar e qual é o meu. Abri então os olhos assim: sentindo o teu vazio na cama. Uma saudade latente de ti. Acho que o amor nos prolonga: a gente não para mais aonde antes parava, a gente se continua, se estende, se estica... Aí acordo e já não basta a minha presença: há a necessidade de saber de ti. Se dormiu bem, se acordou em paz, desejar bom dia, falar da ausência que pulsa na casa, das saudades que batem no peito. Saí da cama e fiz café: e o café chamou teu nome. Estou impregnada de ti. Escuto teu riso pela sala. A fumaça do meu cigarro desenha o teu rosto. Até o cachorro corre para a porta ansioso por ti e volta cabisbaixo ao perceber que o movimento foi na porta vizinha. Escute: que eu sei que eu e você já desaprendemos a ingenuidade. Já entoamos os cantos que partem o coração e já tivemos que raspar nosso queixo do chão várias vezes. Há em nós uma teimosia latente: somos feitas de cores. Formadas de tons resilientes e irritantes. O nosso riso sabe ser o riso nervoso de quem conhece que a lágrima do hoje sabe secar. Pois bem, meu bem, acho que nos encontramos na igualdade: feitas da mesma matéria, passamos os nossos anos sem se conhecer indo beber no mesmo oásis. E cá estamos: rodopiando sobre sonhos antigos, esparramadas num amor que se espanta ao perceber-se tão conhecido. O meu dia começou com vontade de ti.
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