Durante os muitos anos do Blog Sapatilhando, ainda sob o pseudônimo de Helena Paix, eu recebia muitos e-mails que me relatavam histórias, dores e alegrias. E outros tantos que me pediam conselhos.
Esta foi a resposta que escrevi para um desses emails.
Uma leitora do blog havia sido abandonada pela esposa, pois ela ainda tinha muita dificuldade de aceitar-se como lésbica e de enfrentar os preconceitos da família que não a aceitava.
Deixo abaixo o texto-resposta que escrevi, para que chegue em quem também necessita dele.
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Ela foi embora, o que eu faço?
Querida, sinto muito em saber disso.
Sinto mais ainda por, depois de tantos anos, sua esposa ainda colocar em dúvida quem ela é, por se deixar levar por discurssos fundamentalistas.
Sinto muito mesmo.
Mas te peço calma e te peço força.
Não somos, não existimos por causa de nossas companheiras, querida.
Elas podem ser nosso alicerce, nossa força em um momento delicado, nosso amor durante anos... mas se um dia os caminhos se separarem, o movimento natural, depois do luto vivido, da dor sentida, das lágrimas derramadas, é reencontrar-se consigo mesma.
Não cabe à mim ou à você convencer sua esposa de continuar o casamento, querida.
Essa deve ser uma escolha dela. Por mais que isso lhe machuque.
Como sua amiga, como alguém que lhe tem carinho, apenas lhe peço: tenha calma, seja forte!
A vida às vezes nos tira muito, mas em toda essa perda também nos fortalecemos. Também entramos por novos caminhos que serão capazes de também nos trazer novos sorrisos.
Imagino a sua dor. De verdade.
Sei que parece que o chão é arrancado de nossos pés. Que tudo o que acreditávamos se torna poeira. Todas as nossas certezas se vão.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso que você se volte para si mesma. Para o valor que você tem.
Podemos ir conversando, mas preciso que você seja forte. Preciso que você acredite que a vida não tira algo tão grande de nós sem que no futuro nos dê outras oportunidades, outras vitórias, outros sorrisos.
Acredite.
Todo amor só deve durar o tempo em que ambas(os) ainda estiverem promovendo mudanças uma no outro. O amor dura o tempo necessário para isso.
Se ela se fechou para essas transformações do amor, então, querida, é necessário que você enfrente isso com dignidade. Com auto-respeito.
É necessário que você levante a cabeça e seja por você.
Se ela perceber que ainda lhe ama, que ainda pode ser transformada pelo amor, ela voltará.
Mas essa é uma reflexão que ela deve fazer por si mesma.
Chore suas lágrimas. Viva a sua dor. Sinta o seu luto.
Mas faça tudo isso com a certeza de quem não deve mendigar o amor e com a esperança de quem confia nos caminhos da vida.
No meio do desespero a gente esquece que ainda existem muitas horas no relógio.
Então, te peço que seja forte e que confie no tempo.
No mais, estou por aqui.
E tenho fé que dias melhores virão, viu?
Dias melhores virão.
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