quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Raquel e Dani

Raquel não gostava muito de sair, mas a Dani adorava, então ela fazia um esforcinho e, muitas vezes, acabava gostando também. Tinha outras que às vezes dava uma impaciênciazinha, é verdade, mas a sua moça ficava tão feliz e radiante que ela achava era graça de tanta energia. Dani não gostava tanto de filmes cults e coisa e tal. Esses bagulhos intelectualóides, como ela chamava. Ficava com um tédio louco. Chegava a bocejar, meio constrangida por isso, é verdade. Mas os olhos da Raquel brilhavam tanto com esses bagulhinhos poéticos e lentos que Dani sorria com o canto da boca achando a sua moça a criatura mais linda e inteligente do mundo! Ela dava de ombros e dizia que não entendi nada do filme e na real passava boa parte dele era mesmo assistindo com o canto do olho as reações da Raquel. Ali, nas suas diferenças, elas se encontravam de novo e de novo. Apaixonadas por entrar no mundo da outra, por assistir do lugar mais privilegiado possível o que a outra tinha a lhe mostrar. E se encantavam de novo e de novo. Com o sushi que Dani provou fazendo careta, mas que no fim ficou viciada. Com a balada que a Raquel reprovava com virada de olhos e que depois super se divertiu. Com o apê que cada vez mais foi deixando de ser sério e cinza e foi ganhando as plantinhas que a Dani trazia a cada final de semana. O amor, no dicionário delas, era isso: essa coisa compartilhada de quem se aproxima porque quer saber da outra, quer compreender o mundo, o olhar, o sorriso. E quando as pessoas viram para elas e dizem: pô, mas vocês são tão diferentes! Elas já sabem certinho a resposta que dão: a gente se encontra no meio de tudo. 

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