quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Ser livre

É que ela me deixa louca com seu sorriso explosão. Com como ela mexe em tudo o que está quieto e como a sua sapequice agita o ambiente mais calmo. Eu viveria cem anos e ainda não daria conta de tudo nela. É liberdade o nome disso. É isso: é liberdade. Ela passa livre e eu tenho raiva de qualquer coisa que a prenda. Quero ela voando alto como o sentir dela que não cessa nunca. Eu não sei que nome tem isso. É amor, mas é mais que amor. É algo que as palavras não compreendem porque palavra é coisa limitada. Palavra é sempre a tentativa de nomear algo. Mas há tanto que não é nomeável. No fim, palavras são só tentativas pequenas e falhas demais para aquilo a que se propõem. E com ela não adianta porque ela é inominável. Eu acho o mundo louco. Vivo há 36 anos neste mundo e acho o mundo tão, tão bobo. Já fui gorda, já fui magra. Já fui loira, ruiva, azul e laranja. Hoje nem sei o que sou. Já dei pra homem, já dei pra mulher, já dei para os seres bonitos que nem se preocupam com isso. Mas ela: ela me escapa. E porque ela me escapa ela me encanta. Há sempre o que se ver nela. Há sempre o que encontrar nas inconstâncias dela. E o mais encantador é que nem ela dá conta de si. Ela sofre com a sua própria liberdade. Porque há fome demais nela e um estômago profundo sempre quer mais comida. E o mundo é um refeitório amplo, mas toda alimentação tem seu preço. E eu sou apenas grata: porque posso olhar de perto a fome dela. Essa fome tão grande de vida e de gozo. E gosto de vê-la ajeitar as asas que ela carrega embaixo dos braços, disfarçando para caber entre os formais. Só eu vejo suas asas tentando escapar e ela disfarçadamente as ajeitando. Rio por dentro do seu desconcerto. Mas choro também: porque o mundo é especialista em prender as asas dos seres alados. E eu a quero livre. Mergulhando em cada voo que sua fome anunciar. Mas também a quero salva: de si e do mundo. E por isso estou por perto. Porque sei ser ninho para os seus pousos.

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