O nome dela é Raquel. Raquel. Gosto de pronunciar assim, separadinho: Ra-quel. Que é para passar mais tempo dizendo. Quando ela chegou eu nem queria saber de nada, sabe? Eu estava tão absurdamente cansada! Minha deusa! Não gosto nem de lembrar! Eu estava mais estrupiada emocionalmente do que banheiro químico no fim de show. Só o caquinho mesmo. E estava ali: vivendo. Sobrevivendo, é melhor dizer a real. Porque aquilo lá nem bem era vida não. Era um acordar, encher o peito de ar, em formato de suspiro mesmo, e dizer para si: "bora lá! bora enfrentar mais um dia!". E aí, assim sem nem eu esperar ou até querer, me chega a Raquel. Chegou fazendo foi graça comigo. Dizendo que eu era uma besta mesmo quando contei para ela as coisas dos relacionamentos que tinha tido. Ela ria de um jeito doce, fazendo graça, mas sem ser cruel. E dizia passando a mão na minha testa: "mulher, tu não pode ser besta assim não!". E me dava um beijinho no canto da boca. E aí, eu nem sei, parecia casa que é nossa, sabe? Da gente saber-se nua ali e nem ligar. Da gente desabotoar o botão da calça e rir até chorar e não ver a hora passar. Eu não acho que ela é a razão da minha felicidade, não é isso. Mas é que Raquel adiciona. Raquel nunca me tirou nada desde que chegou. Tudo é divido, somado e compartilhado. Ela não me cansa. O contrário: Raquel me descansa. E a gente se encontra ali, no meio, sabe? Eu vou e ela também vai. E quando acontece da gente esquentar a cabeça, a gente se olha e vê que precisa respirar. Aí a gente respira e se acalma e se conversa. Eu acho que é porque quando aconteceu da gente se cruzar, nós duas queríamos a mesma coisa. E aí se alinhar foi muito natural, entende? No outro dia eu estava de blusa e calcinha escovando os dentes e ela, que estava deitada na cama, virou para mim e disse: "ô, criaturinha complicada do meu coração, mas tu é bonitinha, né?". E eu ri com a boca cheia de espuma. Porque o nosso amor é assim: corriqueiro como os detalhes de um dia.
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