quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Selvagens

você está aqui ao meu lado, espalhada toda em mim. teu cabelo se derrama no meu ombro e se mistura ao meu. nossos cabelos pretos e longos misturados, embaraçados em uma confusão íntima e nossa. a gente troca goles de vinho em uma mesma taça, numa economia tão rica que nos transborda. paira um sonho latente em nós: que esse momento dure. se esparrame como nossos cabelos, se misture ao tempo como misturadas estamos. já não temos paciência para dúvidas. mas não temos pressa também. há no nosso tempo algo tão dolorosamente aprendido que já não queremos promessas. queremos o hoje parido em nós. o orgasmo feliz de quem se entrega. a liberdade dos que não enunciam poréns ou titubeiam escolhas. não precisamos convencer ninguém, nem a nós mesmas. não tememos o mundo e nos parimos todos os dias em coragem e amor. já não há correntes e, sem elas, o mundo é deliciosamente selvagem. como nós duas.

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