quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Despensa Cheia

 Eu guardo para depois o meu amor por você. Encho a despensa do meu desejo. Entupo a geladeira de todo o excesso do que sinto. A casa será enfeitada com fartura. A mesa será toda posta. Todos os dias as prateleiras estarão cheias e os olhos brilharão com a abundância do que me palpita. 


Mas, e quando os armários já não mais segurarem todo o volume do que guardam? E quando a geladeira, abarrotada, já não der mais conta de condicionar seus excessos? E quando na mesa já não couber tanta coisa e o risco do mofo me assustar? Quem haverá de comer tudo isso?


Amor não nasceu para ser guardado, minha bonita.

Amor é comida partilhada a cada dia. É coisa que tem que ser dividida para poder nutrir a alma e alimentar o peito. É beleza digerida e dirigida e entregue. É passar a tigela e pedir mais sal se necessário. Acertar o tempero. É correr um pouquinho para que não se esfrie, é adular um pouco nos dias de fastio, é rir junto e gratas da fartura do peito.


Mas amo você.

Porque esse livro de receitas não vem nunca linear e às vezes a gente come além da fome e desabotoa a calça para caber mais. 


Que meu beijo te alcance.

Porque comida e fome não faltam em mim.


E que o tempo nos mostre quais alimentos são perecíveis ou não.

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