quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Recebe meu abraço então

 Oi, meu amor, tudo bem?


Recebi sua carta. Li com cuidado as suas angústias e dores. Que confusão, hein? Haha. Eu queria mesmo era ir aí te dar um abraço. Mas não dá, né? Essas coisas bestas de dinheiro e tempo mesmo. Você sabe bem.


Escuta, recebe o meu abraço assim? De longe mesmo? Se sente abraçada agora então?


Eu quero te falar aquilo tudo que já falamos por telefone tantas vezes. Que vai ficar tudo bem, cara. 

As coisas vão passar. Essa angústia já já se dissipa e se transforma em outra angústia nova para eu chegar em ti e te dizer com a cara mais lavada de novo: que confusão, hein? 


Sei lá. Tem coisas na vida que a gente morre de querer explicar e não consegue.


No mínimo transforma em meme ou piada e faz uma tirada engraçada que é para não desperdiçar a ironia.


Mas explicar mesmo, não dá não.


Como é que eu posso explicar que alguém bonitinho que nem você sofra, meu deus?

Não. Nem cabe.


Eu acompanho há tanto tempo essas querelas todas.

O teu lutar. O teu sentir. O teu tentar.

Vixe.


Que a vontade que dá é de sentar a voadora em tudo o que te dói e te machuca.

Puxar um Hadouken da gaveta e sair exterminando essa bostas todas até que talvez só sobrasse a gente no mundo.

Porque a gente se tolera bem e não se faz mal. 


Sei lá.

Que a vida é coisa besta, né, cara?

Que a gente sente as coisas e às vezes eu acho que as coisas não sentem a gente.

E que tem coisas que a gente busca, busca muito a moral mas nem acha.

E que vem esse papo interno mesmo de que tudo é processo e crescimento, mas basta, né?

Tem dias que a gente só quer engatinhar mesmo e babar o nosso caminho até o peito mais próximo. Haha.


Então, te amo, viu?

Isso é ponto um e eu deveria ter começado o texto assim.

Mas tá aqui pelo meio porque é no meio de tudo mesmo que eu te amo.

Com toda essa putaria que é a vida. Com todo essa verborragia de eventos que por deus ou por lúcifer a gente há de sobreviver.

E melhores e mais gostosas, viu? Que eu nem sei como é que tu fica mais gostosa na vida, mas tu há de achar um jeito. Disso tenho certeza.


Mas, ó: chore.

Que tem que chorar mesmo.

Que choro limpa, cara. Faz faxina. Esvazia o que precisa transbordar.


E te digo isso tudo mas sei que tu também se diz.

Todo dia. Eu sei que teimosia não te falta não.

Que isso tudo aí é fichinha diante da tua vontade de viver e amar.

Eu sei.


Mas é que o mundo é bobo às vezes mesmo.

Não ligue não.

E descanse nos dias de tanto cansaço.

Que o tempo passa, amor.

E as coisas saem de foco.


Meu filho no outro dia veio dizer que tinha um método.

Aí depois perguntou com a cara mais lavada: o que é método, mãe?


Aí eu ri e disse que método é um jeito de fazer alguma coisa.

Aí ele disse: ah, então eu pensei certo.


Então é isso: a gente às vezes só tem mesmo que achar um método de levar o dia e a semana e o mês.

Que aí de repente passou tudo e é que nem band-aid de calcanhar: começa tão dolorido que o calcanhar parece ser o corpo inteiro. Depois a gente caminhando esquece até que calcanhar existe porque a dor do machucado já passou.


Sacode aí essa purpurina toda, meu bem.

Que tu pode não acreditar, tem dias, mas não te falta beleza não.


E a vida dá certo sim.

No meio do furacão é difícil de ver, mas a ventania passa e depois é o tédio da boa calma.

A normalidade das coisas repetidas.

A intimidade rotineira daquilo que ficou porque é bom.


Recebeu meu abraço, já?

Pois receba, ora. Que tô aqui te agarrando faz tempo que é só isso que faz sentido no mundo: que a gente se agarre e se sorria e se acredite. E se teime tanto e a tal ponto de virar um ponto emburrado no Universo: fortes e resilientes o suficiente para colocá-lo logo para funcionar.


Nem te digo, porque tu já sabe. Mas, mentira, te digo sim que é bom que se diga: vai dar tudo certo!


E meus braços estão aí ao redor de ti sempre.

Sorriu já? Pois sorria que eu morri aqui de fazer graça só pra você sorrir. 

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