quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Entorpecida

 

Não tinha idade para aquilo! Como poderia? Vivera já uma vida inteira! Tinha 53 anos e agora isso? Mas não estava enganada! Não estava! Bastava que o nome dela fosse mencionado e todo o seu corpo tremia de um susto delicioso. Sentia um prazer inigualável de estar no mesmo espaço que ela. Quando sentia que ela lhe olhava - e ela lhe olhava! tinha certeza! - parecia que lhe subia uma febre, uma febre tão gostosa e insuportável que morreria ali mesmo, morreria ali mesmo como a literatura romântica dizia que as pessoas morriam, naquele drama que até então lhe parecia irreal e exagerado. Mas aqui estava ela: se sentindo velha e boba, mas completamente extasiada e entorpecida desse amor inusitado. Como seria isso, meu deus? Como poderia dizer a alguém que amava outra mulher? E ainda a esta altura da vida! Mais do que isso: que não conseguia sequer respirar sem pensar nela? Como seria isso? Ela que nunca havia transado com outra fêmea! E não se importava! O mais absurdo era que não se importava! Sentia seu corpo quente de desejo por ela. Ela estando a 6 metros, do outro lado da livraria em que trabalhava, parecia-lhe que estava ali, ao seu lado, parecia que suas almas já dançavam coladinhas uma na outra esperando ansiosamente que seus corpos também assim o fizessem.

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